sábado, 5 de fevereiro de 2011

A rotina na sua empresa está sob controle?

A rotina na sua empresa está sob controle?

Vicente Falconi, fundador da consultoria INDG e autor do livro O Verdadeiro Poder, mostra a necessidade de as empresas criarem processos de gestão das atividades corriqueiras. “100% dos problemas operacionais vêm da má gestão das rotinas”, diz o professor

Por Karla Spotorno
Editora Globo
Vicente Falconi, fundador da consultoria INDG
Mal fora lançado, o último livro do professor Vicente Falconi “tornou-se um clássico”. O livro O Verdadeiro Poder, que recebeu esse comentário do publicitário Nizan Guanaes em Época NEGÓCIOS, traz de forma simples e direta a necessidade de as empresas criarem processos consistentes. Falconi defende que o processo de melhoria de uma empresa passa pelo aprimoramento das rotinas. Quando não são padronizadas, as atividades operacionais realizadas diariamente podem gerar rupturas e perdas que afetam os resultados da empresa.
Para o professor e fundador da consultoria INDG, cuidar das rotinas é essencial para qualquer empresa, apesar de muitas não darem atenção a esse assunto. “Não tem charme e dá muito trabalho, mas tem que ser feito se a organização quiser avançar além da mediocridade.” Para a gestão da rotina, é preciso aplicar o método: um conjunto de procedimentos que garantem a obtenção dos resultados esperados.
O que falta é análise. O poder está na análise da informação para que você gere o conhecimento sólido e possa tomar as decisões adequadas.

Na Suzano Papel e Celulose, o programa de gerenciamento das rotinas realizado pelo INDG – e no qual ele se envolve pessoalmente, participando de reuniões bimestrais com a diretoria – já tem demonstrado resultados, inclusive, financeiros. O projeto gerou uma economia de R$ 40 milhões desde que foi implementado, há menos de dois anos.

Nessa entrevista, Falconi defende com entusiasmo o método e o verdadeiro poder, que é a análise correta das informações e a geração um base sólida de conhecimento para a tomada de decisões. Leia mais na entrevista:

Época NEGÓCIOS – No seu livro, o senhor demonstra que o verdadeiro poder é algo muito simples. Entretanto, poucas empresas se organizam de forma bem-sucedida e sistematizada. Por que é tão difícil? 

Vicente Falconi – A primeira dificuldade é a de ter metas bem estabelecidas para todos. Nem sempre os líderes pensam grande. Por isso, acabam estabelecendo metas "frouxas" que não desafiam as pessoas da organização. Uma vez que a meta já exite no primeiro ano, a simples utilização de informações de manuais ou a prática de brainstorming é suficiente para que ela seja atingida. À medida que os anos passam, os conhecimentos existentes na empresa já foram utilizados, e você então entra em um novo estágio, caracterizado pela ampla utilização de consultoria técnica especializada para ajudar a montar os planos de ação. Finalmente, ainda mais adiante, quando a empresa já é a melhor e não há mais o que copiar, então a única maneira de continuar a evoluir é por meio da análise competente da informação e a descoberta de novos conhecimentos que nos levarão a novos patamares de desempenho. Como o conhecimento é algo sempre em construção, não existem limites ao processo de melhorias em qualquer organização, privada ou estatal. É então melhor que nos preparemos para isto.

É verdade que a má gestão das rotinas responde por cerca de 80% dos problemas de uma empresa? Por quê? 
Digo que 100% dos problemas operacionais decorrem da rotina. Observe a natureza. Veja como se comporta seu corpo. Você se desenvolve como ser humano sem preocupar-se com o sangue circulando, a digestão, a respiração. Tudo funciona muito bem para que você se desenvolva. Nas organizações é a mesma coisa. As operações rotineiras do dia-a-dia devem ser simplesmente perfeitas para que possamos atacar metas cada vez mais desafiadoras. Concluindo: o que é melhorar a empresa? Para mim, melhorar a organizacão é mudar o patamar de desempenho da rotina operacional para níveis cada vez mais altos. Você só consegue fazer isto bem se a rotina for perfeita.

O senhor pode dar exemplos do que é uma gestão da rotina eficaz e quais os ganhos que uma empresa – seja ela pequena, média ou grande – tem com isso? No caso da Suzano, eles conseguiram uma economia de R$ 40 milhões com o programa de gestão da rotina. 
Conheci casos em que a produção de determinado equipamento triplicou com boa rotina. Cada caso é um caso. O problema é que poucas empresas cuidam da rotina. Não tem charme e dá muito trabalho, mas tem que ser feito se a organização quiser avançar além da mediocridade.

Como uma empresa começa e desenvolve um programa de gestão da rotina? 
Eu recomendaria, como está em meu recente livro, que se faça um diagnóstico da rotina. Onde a rotina está fraca? O que deve ser feito? Basicamente a rotina é padronização, muito treinamento, execução auditada, checagem de tudo continuamente e atuação nos desvios sem tréguas. É simples falar mas difícil de fazer, pois envolve o treinamento de muitas pessoas e o estabelecimento de um ambiente de trabalho de elevada responsabilidade e consciência.

O senhor afirma que o desenvolvimento empresarial é um processo educacional e que, portanto, leva tempo. É demorado chegar aos resultados esperados? Como os gestores e acionistas das empresas vêem isso? E, sendo um processo de (re)educação, há como estimar o tempo de aprendizagem? 
Preste bem a atenção: o conhecimento não é algo estabelecido e fixo. É algo que está sempre em construção e, portanto, o aprendizado não termina nunca. Morreremos aprendendo. A empresa, conjunto de homens, tem o mesmo comportamento. O conhecimento acumulado por uma empresa é que determina o seu nível de resultados, não é fixo. Cresce sempre!!! Agora, o que puxa o aprendizado nas organizações é a meta que decorre de sonhos grandes. O sonho genuíno puxa o aprendizado! Pense nisso. Veja, por exemplo, o caso da Embraer. Visitei esta empresa há uns 50 anos para ver o protótipo do avião Bandeirantes. Era o que a empresa sabia fazer naquela época. Hoje essa empresa faz aviões a jato grandes e excepcionais com desempenho operacional superior aos aviões de sua categoria. Quanto aprendizado em 50 anos! 

Gestão da Rotina gera resultados

Gestão da Rotina gera resultados


Desde o fim de 2004 a Santa Maria vem implementando em sua área industrial o Programa TPM (Total Productive Management) ou Gestão Produtiva Total, com objetivo de reduzir as falhas e perdas nos processos produtivos. A organização vem utilizando uma ferramenta denominada Gestão da Rotina, que define cinco rotinas prioritárias nos processos industriais:

1ª Capacitação Operacional: trabalha no planejamento e execução da capacitação dos colaboradores com base nos padrões operacionais;

2ª Manutenção das Condições Básicas: realiza o mapeamento dos equipamentos, sistemas e componentes que servem de base para a definição de tarefas de manutenção nos equipamentos;

3ª Manutenção das Condições Operacionais: são mapeadas e padronizadas as tarefas operacionais que garantem a execução das atividades de forma eficaz;

4ª Restauração da Deterioração: garante a restauração das condições de uso dos equipamentos do processo produtivo por meio de ações, tanto da manutenção como da operação e equipe de segurança;

5ª Tratamento de Falhas: trata do registro e análise de falhas funcionais ocorridas nos equipamentos ou nos processos que impedem a realização da produção, conforme os parâmetros pré-estabelecidos.

Atualmente, a Gestão da Rotina está presente nos processos da Divisão Madeira e Divisão Papel, ao todo são sete processos que trabalham com essa metodologia. Após 4 anos de implementação do programa muitos resultados já foram alcançados, como:

- Aumento da Disponibilidade, Performance e Qualidade do Processo de Fabricação de Papel: 1º semestre 2008 --> 73%, 2º semestre 2008 --> 78%
- Aumento da Produtividade da Divisão Madeira: 1º semestre 2008 --> 37 m³ por dia, 2º semestre 2008 --> 48 m³ por dia
- Redução de custos de produção nos processos de Desdobro, Secagem e Beneficiamento: 2º semestre 2008 --> redução de R$300,00 por m³
- Aumento no rendimento da matéria-prima na Divisão Madeira: 1º semestre 2008 --> 39%, 2º semestre 2008 --> 46%
- Diminuição do Tempo de Falhas no Processo de Desdobro: entre o 2º e 3º trimestre de 2008 --> redução de 31%

Todos esses resultados são garantidos pelo empenho e comprometimento de todos os colaboradores na utilização da metodologia. Com base nesses resultados, em 2009 a Gestão da Rotina será expandida para outros processos da organização.

Ciclo PDCA

O Ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Action) é hoje o principal método da Administração pela Qualidade Total, tendo sido criado na década de 1920 por Shewhart, quando trabalhava na Companhia Telefônica Bell (na qual se desenvolveu a telefonia).
Essa ferramenta fornece o caráter científico à administração moderna, por apresentar uma correspondência perfeita com cada uma das etapas do Método Científico Tradicional. Devemos ressaltar que o PDCA pode ser aplicado em todos os níveis de uma organização, desde a alta administração até o "chão de fábrica", enquanto que o Método Científico possui uma linguagem hermética que o restringe aos ambientes acadêmicos.
O PDCA, juntamente com o Controle Estatístico da Qualidade (Estatística para Qualidade), também incorporado à administração moderna por Shewhart, foram intensivamente utilizados pelos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial e pelo Japão no pós guerra, através da atuação de Deming e Juran.
Após 80 anos de aplicação ininterrupta, essas metodologias consolidam-se nas empresas como as principais ferramentas para a competitividade, ou seja, a capacidade de gerar um produto ou serviço de qualidade superior ou custo inferior ao dos concorrentes nacionais e internacionais.
Empresas de referência mundial em administração (benchmarkers), consideram que gerenciar (administrar) consiste basicamente em aplicar corretamente o PDCA. Paralelamente, o Controle Estatístico da Qualidade está se consolidando como tecnologia crítica na administração com os programas "6 " (seis sigma ou six sigma) que são programas sistêmicos que buscam reduzir os erros de processos para aproximadamente 3,2 por milhão. Os programas 6 foram sacramentados na Empresa Motorola na última década e vêm sendo incorporados por diversas empresas multinacionais e nacionais através dos black belts, os faixas preta da qualidade. Descreveremos as etapas do Ciclo PDCA e citaremos algumas técnicas de Controle Estatístico da Qualidade apropriadas para algumas etapas.

Ciclo PDCA

Primeira etapa: P (Plan) - Planejamento
Consiste na detecção de um problema ou possibilidade de melhoria, na busca de suas causas, seleção das causas principais e montagem de um plano de ação.
Nessa etapa, podem ser usadas algumas ferramentas da qualidade como: Brainstorming, Multivotação, Sistema GUT-CD, Diagrama de Ishikawa, as Sete Ferramentas para o Planejamento da Qualidade, Modelagem Estatística Matemática, Teoria de Amostragem, Simulação, Plano de Ação 5W1H, etc.
A etapa de planejamento deve ser concluída com a elaboração de um documento contendo o objetivo principal, as metas (sub-objetivos quantificáveis, com indicadores de desempenho e datas limite - deadlines) e métodos. Cada meta deve contar com seu método, ou seja, a sequência de ações para se atingir cada meta. O método deve ser checado pelo sistema 5W2H (o que deve ser feito, quando, como, onde, por que, quem irá fazer, quanto irá custar).
As metas são definidas pela alta administração ou a média gerência e os métodos pela equipe responsável pela implementação do PDCA. O processo de negociação de metas e métodos denomina-se Sistema de Negociação Ringi.
O documento elaborado deve ser assinado pela equipe responsável pela implementação e pela alta administração da empresa.

Segunda etapa: D (Do) - Execução
O sucesso dessa etapa depende do sucesso da etapa anterior, considerando-se que a eliminação de um erro na etapa de planejamento tem um custo menor do que a eliminação do mesmo erro na etapa de execução. A execução consiste em seguir fielmente o plano de ação elaborado na primeira etapa do Ciclo PDCA.

Terceira etapa: C (Check) - Verificação, checagem
A checagem é essencial para podermos avaliar o sucesso das etapas anteriores. Devem ser utilizadas as Sete Ferramentas para o Controle Estatístico da Qualidade, assim como outras ferramentas estatísticas, como por exemplo, Análise de Variância, Regressão, técnicas multivariadas (Principal Component Analysis, MANOVA, Cluster Analysis, Discriminante, Correlações Canônicas, etc).

Quarta etapa: A (Action) - Agir
Esta etapa baseia-se no resultado da checagem, pois conclui sobre a necessidade de ações corretivas (se a checagem detectou algum problema), preventivas (se não ocorreu nenhum problema, porém, poderia ter ocorrido) ou de padronização (se tudo ocorreu conforme o planejado e uma nova maneira de executar determinado processo foi descoberta). A finalização da implantação de um PDCA dá origem a outro PDCA, ou seja, a quarta etapa (Action) de um PDCA dará origem à primeira etapa (Plan) do próximo PDCA, sendo esta a base da melhoria contínua da Gestão pela Qualidade Total. Essa conexão entre Action-Plan, chama-se de circularidade do PDCA. Os resultados da implantação dos PDCA's devem ser comunicados para a alta administração num momento denominado Workshop (prestação de contas). Normalmente existem datas fixas, mensais, para a realização de workshop, assim como existe toda uma tecnologia para gerenciar esses eventos. Nas empresas encontramos vários PDCA's rodando simultaneamente, sendo essa a forma com que as equipes de trabalho dos diversos setores de uma empresa dão suporte para a implantação das políticas da alta administração. Esse processo denomina-se Administração por Políticas.

Gestão da Rotina e Gestão da Melhoria
Na Gestão pela Qualidade Total (GQT), a Gestão da Rotina é o gerenciamento das tarefas diárias, em nível operacional, realizado por todos os funcionários de uma organização, tendo como base o Ciclo PDCA. Através do gerenciamento da rotina podem ser obtidos confiabilidade, padronização e delegação. Os próprios funcionários, quando possuem certa autonomia, podem introduzir, através de planejamentos, pequenas melhorias em suas atividades gerando um processo de melhoria contínua (kaizen ) na empresa. Entre as ferramentas da GQT que ajudam na gestão da rotina temos: PDCA, Programa 5S, CCQ, Procedimentos Operacionais, etc. Quando a rotina de uma empresa está bem estabelecida, a alta administração deve buscar melhorias visando maior competitividade, eficácia, aumento de mercado e sobrevivência empresarial. O rompimento com a rotina, através de inovações, é chamado de Gestão da Melhoria. Para introduzir mudanças na propriedade, que levem para uma maior qualidade e competitividade, a alta administração deve fazer uso de várias ferramentas da GQT que ajudarão na tomada de decisão e em todas as fases do Ciclo PDCA. Dentre essas ferramentas, destacamos: Marketing, Benchmarking, Custos da Qualidade, FMEA, QFD, Auditorias, Administração por Políticas, etc. Devemos ressaltar que para a realização deste artigo foi fundamental a interação da Universidade de São Paulo com a Empresa Diagrama Consultoria em Qualidade Ltda, com atuação em diversos países e forte vínculo com organizações japonesas.


http://engenhariaubc.br.tripod.com/ciclopdca.htm